Ainda não se descobriu o segredo dos relacionamentos. Nem do triunfo no campeonato de pontos corridos. O que se descobriu é que, na maioria das vezes, é fundamental se fazer uma escolha.
Se você começa uma relação como quem começa uma partida de futebol, só uma chance de dar certo. E duas de dar errado.
No futebol, você ganha, perde ou empata. Se der vitória pra um dos lados, ferrou sua relação. Quando empata em casa, é derrota travestida de um mísero ponto.
Amor quase nunca é uma corrida ensandecida que começa com o apito de um árbitro. Nem um jogo onde, entre catimbas e estratégias, se encerra ao final de noventa minutos. A não ser que o tempo seja curto. Ou o espaço limitado.
Amar, embora também envolva equações matemáticas que se balizam na forma do romance clássico com início, desenvolvimento e fim, não precisa terminar no clímax.
O clímax, como dizia a poeta Jenna Jameson, pode ser eterno.E você pode eternamente amar, mesmo que o amor acabe. É só não dormir no ponto.
O facebook impõe a linha do tempo. E difunde, com sucesso, a ideia de que o acabado acabou. Mas o amor, se é amor, não acaba com o fim. O que acaba é uma relação. Você pode não mais ver, encontrar ou falar com determinada pessoa. Mas o amor fica, mesmo que seja incompatível.
O futebol é um jogo que se repete e se repete e se repete e,no final, é sempre o mesmo. Ninguém lembra se venceu ou perdeu o clássico de dois anos atrás. Porém, todos lembram daquela tarde que teve sorvete e passeio depois do almoço, vivida há dois, cinco ou dez anos. Nem dos sabores que se misturaram no meio do caminho.
E, se você lembra, é porque foi no mínimo contumaz para ficar arquivado numa gaveta bem acessível do seu HD. Na verdade, o armazenamento de dados é muito mais complexo que uma caixinha que a gente abre a fecha quando bem entender. O problema é que, para ter acesso a essa caixa, por vezes, precisamos ter acesso à chave, item bem mais difícil de se encontrar.
O segredo, então, seria a chave?
Como sou favorável a bate-papos depois do amor e de um cochilo após o futebol, as coisas raramente se misturam. Pelo menos para mim. É um defeito que não me permite fruir duas coisas ao mesmo tempo. Por isso, tenho medo de admitir, mas atualmente é bem provável que o futebol se sobreponha ao meu amor.
Não que seja necessário se fazer uma escolha.
Mas a linha do tempo é voraz. E, a partida de futebol, eu tenho bem mais chances de esquecer na semana seguinte.