Sobre o nada

Publicado: agosto 30, 2012 em Sem categoria

Nada tenho a falar sobre Machado de Assis. Mas sinto uma necessidade enorme de escrever algo. Sem importar o quê. Tem tanta gente falando nada sobre coisa alguma. Decidi falar nada sobre Machado. 

Passado mais de um século, as pessoas ainda não perceberam o essencial no fundador da academia. Ainda discutem se Capitu deu ou não deu para Escobar. Acho que os discutidores do assunto não leram o livro. Ou ela fez inseminação artificial ou abriu as pernas para o amigo do marido. O fato do filho do casal ter o acara e os trejeitos de Escobar não podem ser apenas obra de um narrador inconfiável. 

Para mim, inconfiáveis são essas discussões. Machado não é uma discussão. É um estado de espírito. No fim, acho que ainda não aprendemos a ler. O que importa não é a traição. A importância está na necessidade que o autor nos provoca. A necessidade de falar sobre o assunto. Mesmo que nada haja a ser dito. 

Em tempos de Big Brother (não falo do George Orwell, falo do Pedro Bial), o nada parece mesmo ser a tônica da cultura nacional. Parece que estamos meditando vinte e quatro horas por dia. Ou seja, com a mente vazia.

Nos anos dois mil, o que parecia impossível tornou-se lugar comum. Se antes precisava-se de anos para esvaziar a mente para conseguirmos meditar, agora faz-se num simples toque no power. Tudo bem que não se medita, mas com a mente vazia já é meio caminho andado. 

Talvez esse seja o caminho para a paz em nosso país: a meditação. Nunca pensei que Pedro Bial tivesse esse poder. 

Aposto que o próprio Bhuda está fascinado com essa descoberta. Assim como Machado de Assis está se revirando no caixão pelas notícias e repercussão sobre sua obra que os vermes lhe trazem.

O que os vermes não devem comunicar são as atividades da Academia Brasileira de Letras. Nem os nomes de seus integrantes. Se a importância que a fugidinha de Capitu alcançou o faz revirar-se no caixão, imaginem se ele soubesse que o José Sarney faz parte da casa que ele fundou para abrigar a nata dos escribas tupiniquins.

Acho que devo assistir mais o plim-plim. Estou começando a gostar dessa história de falar sobre o nada. Depois do meu aperfeiçoamento, talvez eu já consiga falar nada sobre futebol, sobre o aquecimento global e, chegarei ao auge, falando nada sobre a política. 

Mas, antes, preciso acompanhar muito o programa do Bial. Ouvi dizer que até pay-per-view tem. Vinte e quatro horas por dia. Vou assinar.

 

comentários
  1. PJ disse:

    Não tenho nada a comentar.
    (Ih… acho que já comentei sobre alguma coisa)

  2. Juli disse:

    Tu e a Capitu com comentários e olhos “oblíquos e dissimulados”… 😛

Deixe um comentário