Esses tempos jogaram Brasil x Argentina.
Fui ao cinema.
Vi um filme argentino: Elefante Branco.
Era um filme com Ricardo Darín.
Não falarei sobre o filme.
Buenos Aires tem um estoque de setenta e dois Ricardo Daríns.
Ele atua em todos os filmes portenhos. Em “Medianeiras” ele era a medianeira. Para manter a alta rotatividade que os papéis exigem e a complexidade dos personagens, a cada três meses fabricam um novo Darín.
Colocam no almoxarifado.
Quando um quebra, substituem. Quando um está ocupado, mandam o reserva. Há uma equipe especializada em conservação de Daríns.
Lubrificam, trocam órgãos, aceleram a duplicação celular. Já ouvi falar que há um curso de doutorado na ENERC de especialização na reprodução e conservação de Daríns. Dizem.
Eu acho isso ótimo. Os povos precisam aperfeiçoar o que tem de melhor. Se não há bons governantes, que haja bons atores. Nós temos Fernanda Montenegro e Salomé Parísio. Os egípcios não tinham atores, tinham Tutancâmon. A Grécia é o berço da Tragédia e da Comédia. Estamos mais para gregos do que para egípcios. Mas somos pós-modernos. E barrocos. Tudo ao mesmo tempo. Nosso futebol é uma comédia. Nossa política, uma tragédia.
Esses tempos jogaram Brasil x Argentina.
Ainda bem que ainda não começaram a reproduzir Messis. Prefiro que continuem aumentando o estoque de Ricardo Daríns. Setenta e dois é pouco.
O cinema argentino precisa produzir mais. O futebol, bem, seria bom deixar como está.
Quando chegarmos ao centenário de nascimento de Messi e fizerem um filme sobre sua vida, o interprete será Ricardo Darín.
Na tela, ele fará golos mais belos que o próprio Messi. Tudo estará lá. Registrado. Com roteiro e trilha sonora. Pronto para levar os aplausos e as lágrimas das multidões. Tudo estará lá. Afinal, Ricardo Darín, só há um.
Futebol é arte. Esquece quem vê, e o que estes fazem com ele. Apenas vê. Como se estivesse em uma poltrona de cinema na última sessão, aquela que ninguém vai. E decifra seus milagres. E encontrarás inspiração, poesia e estofo.
Abração de um amigo.